Descrição

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Guy Debord (1931-1994), cuja morte completa agora três décadas, não é um autor qualquer: inclassificável, verdadeiramente contemporâneo, singularmente profético, sua crítica histórica e estratégica ocupa um lugar único no mapa cultural e político da última metade do século XX. Mais citado do que efetivamente lido, “mais conhecido como o mal do que propriamente mal conhecido”, Debord é, segundo a alegoria de Michael Löwy, “uma máquina infernal difícil de desmontar (...) e arrisca explodir entre as mãos daqueles que a manipulam com o objetivo de torná-la inofensiva”.

 

A notícia de sua morte por suicídio, em 30 de novembro de 1994, foi massivamente veiculada pela imprensa francesa. Visibilidade oportunista, se levarmos em consideração o fato de que, em vida, sobretudo a partir de 1968, Debord foi metodicamente caluniado por esta mesma imprensa que, post-mortem, passou a tratá-lo como um dos maiores intelectuais do século.  O jovem debochado que gostava de se apresentar como “doutor em nada”, diferente da figura do intellectuel, optou pela recusa em se integrar ao espetáculo. Como diz em sua autobiografia: “Nunca dei mais que pouquíssima atenção às questões monetárias e absolutamente nenhum lugar à ambição de vir a ocupar alguma brilhante função na sociedade”.

 

Sendo o autor de um dos livros de crítica social mais notórios de sua época, Debord nunca concedeu entrevista a jornalista algum, nem jamais se exprimiu em nenhuma mídia radiofônica ou televisiva, um feito sem paralelo entre os quadros intelectuais de uma época centralmente marcada pelo boom dos meios de comunicação de massa.

 

Em O último Debord, Erick Corrêa enfrenta esse longo processo de banalização da teoria do espetáculo e de desqualificação do pensador, discutindo a sua produção entre 1984 e 1994, seu último decênio de vida, um período marcado pelo refluxo da luta de classes revolucionária em nível global, resultado da repressão que se abateu sobre a geração dos situacionistas, do Maio de 68 e da autonomia italiana da década de 1970. Ao público leitor que considerar démodé tais temáticas, lembramos, com o velho Debord, que “quando ‘ser totalmente moderno’ se tornou uma lei especial proclamada pelo tirano, o que o escravo honesto teme, acima de tudo, é que ele possa ser suspeito de saudosismo”.